Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.
Diferentemente de muitos países do mundo, no Brasil criou-se a cultura da importância de se ter uma casa própria. Dados de 2019 demonstram que 66,4% dos lares brasileiros são próprios e quitados e 6,1% dos lares são próprios, mas ainda sendo pagos. Em muitos países desenvolvidos a realidade não é esta. Na Suíça, por exemplo, apenas 42,5% dos lares são próprios. A “cultura da casa própria” está enraizada na mentalidade e na cultura do brasileiro. Afinal de contas, vivemos em um país com constantes crises econômicas e financeiras. Além disso, o país possui uma classe média considerável, a qual possui o desejo de progredir na vida. Nesse sentido, o desejo da “casa própria” torna-se uma forma de conquistar uma maior estabilidade financeira, além de representar uma grande conquista pessoal para o comprador do imóvel. Até os governos nas esferas federais, estaduais e municipais realizam programas que fomentam a aquisição de moradias, sendo o mais notável deles o “Minha Casa, Minha Vida”. No entanto, a decisão de adquirir um imóvel residencial em algumas ocasiões pode não ser financeiramente vantajosa. Logo, para tomarmos decisões prudentes é importante avaliar os custos e benefícios na aquisição de um imóvel.
Para um indivíduo que possui condições de adquirir um imóvel sem realizar um financiamento, ele precisa avaliar a taxa anual de aluguel. Esta taxa é apenas o valor do aluguel anual dividido pelo valor de mercado do imóvel e multiplicado por 100. Após realizar esta conta, o potencial comprador do imóvel deve avaliar as opções de investimento, em especial, as mais seguras do mercado financeiro. Se a taxa anual de aluguel for menor que a rentabilidade anual de um ativo financeiro seguro, a aquisição do imóvel pode ocasionar uma perda financeira para o comprador.
Como ilustração, um imóvel no centro de Florianópolis com 69m2, de acordo com uma consulta online, tem um valor de mercado de R$750 mil e um aluguel mensal de R$3 mil. Ou seja, a taxa anual de aluguel é de 4,8%. Quando consideramos as opções de investimento em renda fixa, é possível encontrar com facilidade ativos seguros com rentabilidade superior a 4,8% ao ano. Como o potencial comprador do imóvel terá um maior retorno dos seus investimentos financeiros do que gastos com aluguel, não haveria motivos financeiros para a aquisição do imóvel.
Muitos podem considerar que a aquisição do imóvel pode ser vantajosa, pois o imóvel pode valorizar mais que a rentabilidade em alguns ativos financeiros. No entanto, é um erro pensar que o mercado imobiliário vai sempre se valorizar. Este foi um dos motivos que levaram a crise financeira mundial de 2008. Crises econômicas e o aumento da criminalidade no bairro que o imóvel está sendo adquirido, por exemplo, podem fazer com que o valor de mercado do imóvel sofra uma queda substancial.
Já para aqueles que precisam de financiamento para adquirir o imóvel, a análise fica mais complicada. Afinal de contas, o indivíduo precisará avaliar sua capacidade de pagar as prestações e as taxas oferecidas pelos bancos. Muitas instituições financeiras fazem contratos com taxas indexadas a inflação, o que pode ser um risco para quem está financiando o imóvel. Se a inflação subir substancialmente, o indivíduo pode não ter condição de cumprir suas obrigações com o banco.
Outro ponto que deve ser avaliado por quem vai financiar um imóvel é o valor total do financiamento do imóvel. Esta avaliação é especialmente importante em um país como o Brasil, onde os juros cobrados pelas instituições bancárias são elevadíssimos. Logo, se o valor a ser financiado for muito superior ao valor de mercado potencial do imóvel, a aquisição do imóvel pode não ser vantajosa.
Em suma, ter a “casa própria” nem sempre é vantajoso. Logo, é importante que cada um avalie as condições do mercado imobiliário, as oportunidades de investimento financeiro, sua estabilidade e outros fatores relevantes para a aquisição de um imóvel. Afinal, muitas vezes podemos ter a ilusão de que deixar de pagar aluguel é menos custo para nossas finanças pessoais, mas nem sempre esta é a realidade.
Referências
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