Crescimento da economia só será sustentado com investimentos
Nas últimas semanas, os indicadores econômicos publicados por diversos institutos de pesquisas e a revisão das projeções econômicas de diversas instituições financeiras demonstram que a recuperação da economia brasileira está superando as expectativas. Hoje, a maioria das instituições financeiras e agências do governo estimam um crescimento do PIB entre 4,5% e 6% em 2021 – números não experimentados pelo Brasil há mais de uma década.
Os números positivos e a sensação de otimismo acerca da economia são fruto de diversos eventos que vem favorecendo o crescimento econômico acelerado da economia do país. A alta do preço das commodities, o elevado gasto público, a implementação de algumas medidas para liberalização da economia e reestruturação do Estado brasileiro e a reabertura da economia são fatores essenciais para entender a recuperação econômica brasileira. Em última instância, esses eventos ajudam a elevar o PIB de três maneiras. A reabertura da economia, os subsídios e auxílios a indivíduos e empresas impulsionam o consumo. O aumento da demanda por produtos que o Brasil tem vantagens comparativas, como minério de ferro, soja, proteína animal e café aumentam as exportações do país. Por fim, o aumento do gasto público também impulsiona o crescimento, pois este gasto é transmitido a outros setores da economia.
Contudo, as fontes de crescimento atual da economia são insustentáveis a longo prazo, pois o Brasil possui diversos desequilíbrios econômicos que impedem o país de atrair mais investimentos, os quais são necessários para o desenvolvimento econômico de longo prazo do país. Os recorrentes déficits públicos, por exemplo, estão fazendo com que a relação dívida-PIB do país se aproxime de 90%, um dos maiores índices entre os países emergentes. Além disso, as políticas de expansão monetária e fiscal do governo estão levando a um aumento da inflação que deve elevar o custo de vida dos brasileiros, especialmente da população de baixa renda. Outros problemas enfrentados pelo país são o elevado grau de estatização da economia, a falta de liberdade econômica e o ambiente de insegurança jurídica que temos no país. Apesar de algumas reformas econômicas e privatizações terem sido implementadas, muito deve ser feito para dinamizar a economia brasileira e torná-la mais atrativa aos investidores.
Basicamente, a falta de investimentos no Brasil tem três causas fundamentais. Em primeiro lugar, o Brasil tem um nível de poupança muito baixo. Indivíduos e empresas poupam pouco. Com poucos recursos disponíveis, as empresas não conseguem expandir suas operações e desenvolver novas tecnologias e produtos. Além disso, com uma oferta de crédito restrita, as taxas de juros tendem a subir.
Em segundo lugar, o gasto público elevado causa um efeito econômico denominado de crowding out. Basicamente, o gasto público elevado faz com que o governo precise financiar parte de suas despesas através de empréstimos. O problema é que, como o Brasil possui um baixo nível de poupança, existe uma baixa oferta de crédito no país. Inevitavelmente, a lei de oferta e procura explica que, com uma oferta baixa e uma demanda alta, os preços crescem; no caso, a taxa de juros cresce. Assim sendo, o governo acaba por tomar boa parte do crédito disponível no mercado, elevando, assim, as taxas de juros e inviabilizando o setor privado de tomar empréstimos para financiar seus investimentos.
Por fim, no ambiente econômico ruim que temos no Brasil, com o excesso de burocracia, leis trabalhistas arcaicas, insegurança jurídica, instabilidade política e um elevado risco fiscal, os investidores externos, os quais poderiam trazer recursos que compensassem a falta de poupança doméstica do país, também não são atraídos a aplicar seus recursos no Brasil. Os riscos tornam-se muito altos para um retorno incerto.
Em última instância, a falta de investimentos no país compromete a nossa capacidade de crescimento a longo prazo, pois a nossa produtividade não cresce. Ou seja, não conseguimos fazer mais com menos. Sem investimento em capital físico, não teremos infraestrutura para tornar nossa economia competitiva, e as empresas não terão os equipamentos necessários para produzir mais com uma qualidade melhor. Sem investimento em capital humano, os profissionais do país não terão a qualificação necessária para trabalhar em setores que produzam bens e serviços com elevado valor agregado. Com menos investimentos nas empresas, teremos menos capacidade de desenvolver produtos, serviços e métodos de produção inovadores que poderão melhorar a produtividade de nossa economia.
Infelizmente, o baixo crescimento da produtividade da economia não é um fenômeno recente. Há mais de 30 anos nossos níveis de produtividade estão estagnados. Contudo, nenhuma política pública para melhorar esta situação foi implementada. Hoje, um trabalhador brasileiro produz apenas um quarto do que produz um trabalhador americano, e um terço do que produz um trabalhador alemão ou coreano. Também geramos menos riqueza por hora do que os países desenvolvidos. A riqueza produzida no Brasil em uma hora é de apenas 25% do que é produzido nos EUA. O fato é que estamos muito atrás dos países que deveríamos nos espelhar, porém pouco está sendo feito para minimizar a divergência econômica entre o Brasil e os países desenvolvidos.
Logo, torna-se essencial que a classe política brasileira trabalhe para construir um ambiente econômico que atraia investidores e eleve as taxas de poupança. Reformas graduais e atrasadas não fomentarão o desenvolvimento econômico do país. Precisamos privatizar mais, reduzir os privilégios do serviço público, desburocratizar e desregulamentar a maioria dos setores da economia, incentivar o aumento das taxas de poupança no país, simplificar o sistema tributário, reduzir o nível de insegurança jurídica do país, flexibilizar o mercado de trabalho, abrir a economia do país ao comércio exterior etc. Em suma, precisamos de um verdadeiro choque de capitalismo no país. Não é por acaso que as economias mais desenvolvidas do mundo são aquelas com maior liberdade econômica. É apenas em um ambiente de liberdade, competição e inovação que os investidores se sentirão animados a investir. Se o Brasil quiser se desenvolver, deve seguir o exemplo das nações que deram certo. Caso quisermos manter as políticas que nos mantiveram nesta posição de vulnerabilidade econômica, política e social, caminharemos rumo ao fracasso.
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