Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.
O Brasil é o país das oportunidades perdidas. Temos uma riqueza mineral e biológica inestimável, um vasto território e uma grande população. Ou seja, temos todas as ferramentas para conquistarmos um maior nível de desenvolvimento econômico e social. Contudo, nosso desenvolvimento acaba esbarrando na política. Afinal de contas, pouco adianta um país ter todos os ingredientes para se tornar uma grande nação, caso as políticas públicas implementadas pelo governo não criem um ambiente de negócios favorável ao crescimento econômico do país. Aliás, muitos dos principais casos de sucesso econômico do mundo são de países que não possuem as vantagens brasileiras. Países pequenos com poucas riquezas minerais como Hong Kong, Cingapura, Suíça e Luxemburgo estão no topo da lista dos países com maior PIB per capita do mundo por terem dado as condições necessárias para o setor privado prosperar.
No Brasil, infelizmente, temos uma economia demasiadamente fechada, um setor público ineficiente, um gasto público demasiadamente elevado, instabilidades políticas recorrentes e intervenções desnecessárias do governo na economia que acabam afetando nossa capacidade de crescimento. Em grande parte, estes erros de condução política do país são resultado da imaturidade política do povo brasileiro. Trata-se de algo natural quando consideramos que o Brasil ainda é uma jovem democracia, com menos de quarenta anos. Estes erros políticos acontecem simplesmente porque a população não cultiva práticas e valores que exijam do poder público eficiência, transparência e responsabilidade. Ademais, poucos têm a compreensão que o desenvolvimento do país deve se dar pela ação individual de cada cidadão ao invés da ação do Estado.
A realidade é que grande parte da população tem um pensamento estadista. Queremos auxílios do Estado, controle de preço dos combustíveis, aposentadoria aos 50 anos, subsídios para transportes, ensino superior gratuito e meia-entrada para os jogos de futebol. Entretanto, ninguém se questiona quem paga esta conta.
Desafortunadamente, esta demanda crescente por privilégios e benefícios faz com que o setor público se expanda e políticas populistas comecem a prosperar. Os políticos acabam tomando ações para ganhar popularidade hoje, mesmo que estas ações coloquem o desenvolvimento do país em risco em poucos anos. Quando olhamos para a história do gasto e da dívida pública brasileira é nítido que o imediatismo ocasionou as maiores crises econômicas da história. Entre as décadas de 1980 e 1990 tornamo-nos um dos poucos países do mundo que experimentou uma hiperinflação, mesmo sem ter passado por uma guerra ou outra grande tragédia. Após a estabilização da inflação, o gasto público permaneceu elevado. Contudo, a dívida foi controlada com o aumento de impostos. Já com os governos petistas, enfrentamos a maior crise econômica da história do país, devido a políticas econômicas demasiadamente expansionistas que ocasionaram em grandes desequilíbrios econômicos (aumento da inflação, desemprego, depreciação da moeda, etc.).
Em última instância, esta necessidade de crescer a qualquer custo, apenas para conquistar popularidade política, acaba trazendo problemas estruturais para a economia brasileira. Afinal, qual empresa teria incentivos para investir em um país com um ambiente de negócios ruim, baixo nível de liberdade econômica e uma situação macroeconômica instável? Só empreendedores heróicos mesmo para encarar tamanho desafio.
Quando olhamos para o caótico cenário político, econômico e social, do Brasil fica a seguinte dúvida: como podemos construir um país economicamente forte, socialmente coeso e politicamente estável? Em minha visão, a resposta está nos princípios e valores que regem os países de maior sucesso econômico no mundo. Não são recursos minerais, extensão territorial e tamanho populacional que fazem um país se desenvolver, mas sim, as ideias dominantes em suas sociedades que possibilitam a emergência de uma economia próspera.
Analisando os indicadores de desenvolvimento econômico, percebe-se que as nações mais prósperas foram aquelas que adotaram uma economia de mercado. Outro ponto que chama atenção é que são os países ocidentais justamente os que mais se destacam nos rankings de PIB per capita mundiais. Nesse sentido, olhar para a trajetória de desenvolvimento desses países é uma atividade importante para encontrar os caminhos para o desenvolvimento brasileiro.
Um dos casos que podem servir de inspiração para o Brasil é a história do Reino Unido após a Segunda Guerra Mundial. Até o início do século XX, o Reino Unido era o maior império da história. A pequena ilha europeia conseguiu conquistar uma área equivalente a 25% do território do planeta. Além disso, o país era o centro financeiro, industrial e científico do mundo. A maioria das grandes inovações saíam do Reino Unido.
Contudo, com a ocorrência de dois conflitos militares de larga escala, a economia do país praticamente colapsou. Os Estados Unidos se tornaram a grande potência global após a Segunda Guerra Mundial e os britânicos perderam grande parte de seu território e a sua capacidade produtiva havia sido severamente afetada. Ademais, com uma situação social complicadíssima após a guerra, a população passou a demandar maior apoio do Estado em diversas áreas da economia e sociedade. Algumas medidas eram compreensíveis, como a criação de um sistema nacional de saúde, o NHS (National Health Service), um novo sistema de seguridade social, entre outros programas sociais. No entanto, o avanço do Estado sobre a economia começou a extrapolar o aceitável durante o governo trabalhista de Clement Attlee, quando diversas indústrias foram nacionalizadas e o planejamento central da economia praticamente eliminou a dinamicidade econômica britânica. O fato é que o funcionamento de uma economia basicamente socialista durou décadas no Reino Unido, independentemente se o poder estivesse nas mãos dos trabalhistas ou dos conservadores. Grande parte da sociedade realmente queria mais Estado.
Sabendo que este sistema econômico estava fadado ao fracasso, um empresário chamado Anthony Fischer buscou se aconselhar com um economista, grande defensor do livre mercado, Friedrich Hayek, sobre como ele poderia atuar na oposição ao estatismo que havia tomado conta do país. Sabiamente, Hayek aconselhou Fischer a não entrar na política. Sendo Fischer um homem rico e de bom relacionamento, Hayek lhe disse para fundar um instituto que atuasse na divulgação de ideais liberais. Assim, surgiu, em 1955, o IEA (Institute of Economic Affairs), Instituto de Assuntos Econômicos.
Durante mais de 25 anos, o instituto atuou na promoção do livre mercado e das liberdades individuais, sem que suas ideias se tornassem hegemônicas no Reino Unido. Contudo, quando a política intervencionista do governo britânico começou a demonstrar sinais de esgotamento, com o baixo crescimento econômico do país, sucessivas greves, aumento da inflação, crises bancárias, entre tantos outros problemas, a população passou a buscar novas ideias para a solução desse problema. Em 1979, o avanço das ideias liberais levou a ascensão de Margaret Thatcher ao posto de primeira-ministra do Reino Unido.
Durante o governo de Thatcher, o país passou por uma verdadeira revolução. Seu governo conseguiu controlar a inflação, reduzir o poder dos sindicatos, privatizar a maioria das empresas estatais, reduzir impostos e desregulamentar a economia. Assim, a economia britânica voltou a se tornar uma das mais competitivas do mundo. Afinal de contas, o país voltou a atrair investimentos e possibilitou que as empresas se tornassem mais produtivas e inovadoras.
Enfim, a experiência britânica nos leva a crer que o Brasil pode sim conquistar um novo patamar de desenvolvimento. Isso passará pela disseminação de ideias liberais pela sociedade. A defesa do livre mercado, das liberdades individuais, do império da lei e das limitações do poder do Estado fizeram parte do ideário da população dos países mais desenvolvidos do mundo. Edmund Burke, o pai do conservadorismo britânico, certa vez disse que “Mude as ideias, e você poderá mudar o curso da história”. É um conselho que os brasileiros não podem deixar de lado. Afinal de contas, o Brasil nunca melhorará a partir de Brasília. O Brasil só passará por uma transformação positiva quando a maioria dos cidadãos defenderem princípios e valores que estejam alinhados com o desenvolvimento sustentável do país. Caso o ideário populista teimar a ser dominante na sociedade estaremos fadados a permanecer no subdesenvolvimento.
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