Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.
  

             Estamos vivendo em um período econômico conturbado. As restrições às atividades econômicas, em decorrência da pandemia da COVID-19, afetaram substancialmente alguns setores da economia. Restaurantes, comércio, cinemas, casas de eventos, hotéis, entre tantos outros negócios estão enfrentando uma crise sem precedentes na história destes setores. Os dados econômicos são alarmantes. Segundo o Ministério da Economia, 1,044 milhão de empresas fecharam em 2020. Além disso, muitas empresas experimentaram um aumento expressivo em seus níveis de endividamento. Segundo dados do SEBRAE-RJ, 63% dos pequenos negócios no estado do Rio de Janeiro estão endividados ou inadimplentes. Infelizmente, trata-se de um problema enfrentado por inúmeras empresas ao redor do país.

         Contudo, em muitos casos, a pandemia não foi o fator determinante para a falência ou deterioração da condição financeira das empresas. Antes mesmo da pandemia muitos negócios já estavam passando por dificuldades. Afinal de contas, o setor empresarial brasileiro, especialmente o setor de pequenas empresas, é caracterizado pela baixa longevidade das empresas. O IBGE, por exemplo, em um levantamento acerca da longevidade das empresas brasileiras, descobriu que 40% das empresas criadas em 2012 não conseguiram ultrapassar cinco anos de vida. Tais dados alarmantes demonstram que o setor empresarial do país enfrenta um problema estrutural.

         Esta problemática é demonstrada em um estudo da Global Entrepreneurship Monitor, de 2019, acerca do cenário do empreendedorismo no Brasil. O estudo revela que a maioria dos empreendedores no país possuem um baixo nível de escolaridade e que nossos empreendedores são em sua maioria jovens ou indivíduos sem experiência com o empreendedorismo. Naturalmente, a falta de experiência e capacitação faz com que os empreendedores cometam falhas básicas no desenvolvimento de seus negócios. Como poucos conhecem de aspectos fundamentais de administração de empresas e sobre os fundamentos da economia, as decisões de gestão dos empreendedores inexperientes tendem a ser fundamentais no puro empirismo.

         Nesse sentido, uma das principais falhas que os gestores de pequenas empresas cometem é não analisar as condições de seu mercado de atuação. O impulso na tomada de decisões e a falta de um planejamento adequado faz com que a viabilidade das empresas seja dificultada. São inúmeros os exemplos que temos de empresas que não conseguem ter êxito em sua área de atuação. Como ilustração, podemos olhar para alguns “negócios da moda”, os quais são caracterizados pela abertura de muitas empresas sem uma identidade que buscam atender um surto de demanda dos consumidores. As lojas de paleta mexicana e frozen yogurt são exemplos notórios de produtos que tiveram uma demanda temporária dos consumidores, mas que muitos empreendedores investiram no mercado apostando que poderiam ter grande sucesso. O grande erro desses empreendedores foi investir em um mercado com um surto de demanda e com uma oferta já saturada, considerando a entrada de novos players no mercado de forma muito rápida. Além disso, muitos cometeram o erro de não diferenciar suas lojas e produtos dos concorrentes. Afinal, como a maioria das lojas eram muito parecidas tornava-se difícil conquistar uma clientela cativa. Logo, não é de se estranhar que a maioria das empresas de paletas mexicanas e frozen yogurt fechassem em poucos anos.

         O fato é que além de não estudarem seu mercado de atuação, muitos empreendedores acabam falhando na análise das tendências de variáveis econômicas que podem afetar seu negócio. Crises econômicas, alterações na taxa de câmbio e mudanças na política monetária podem ser fatais para alguns tipos de negócios. Uma depreciação do real, por exemplo, pode inviabilizar o negócio de uma empresa que depende de produtos ou insumos importados, enquanto empresas que exportam seus produtos devem prosperar. Assim sendo, é crítico que os empreendedores busquem aconselhamento acerca das perspectivas do mercado para que possam tomar as melhores decisões para que suas empresas consigam se manter competitivas e rentáveis.

         Em última análise, é crítico que os empreendedores busquem entender o mercado que atuam para terem sucesso. Achar que determinado tipo de empresa ter sucesso, significa que abrir um negócio no mesmo ramo de atuação levará você ao sucesso é um grande erro. Mercados competitivos são complexos e dependem de uma análise apurada para entender as chances de conseguir desenvolver uma empresa rentável. Decisões por impulso e falta de planejamento são a origem da queda de muitos empreendedores. É verdade que arriscar faz parte da arte de empreender, porém os riscos só podem ser minimizados e o sucesso alcançado através de uma gestão prudente e uma análise apurada das tendências do mercado.  

Referências

RUSSI, A. Mesmo com Pandemia, Número De Empresas ABERTAS Supera as fechadas Em 2,3 MILHÕES. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/02/02/mesmo-com-pandemia-numero-de-empresas-abertas-supera-as-fechadas-em-2-3-milhoes>. Acesso em: 13 apr. 2021.

O DIA. Sebrae: 63% dos pequenos negócios do RJ estão endividados ou inadimplentes: Economia: O DIA. Disponível em: <https://odia.ig.com.br/economia/2021/04/6121892-sebrae-63-dos-pequenos-negocios-do-rj-estao-endividados-ou-inadimplentes.html>. Acesso em: 13 apr. 2021.

VEJA. Seis em cada dez empresas fecham em cinco anos de atividade, aponta IBGE. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/economia/seis-em-cada-dez-empresas-fecham-em-cinco-anos-de-atividade-aponta-ibge/>. Acesso em: 13 apr. 2021.

GRECO, S. M. D. E. S. S. Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil : 2019. Curitiba, PR: IBQP, 2020.