Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.

Sucessivamente, venho alertando em meus artigos que a crise da COVID-19 trouxe uma desorganização sem precedentes para as economias da maioria dos países. Desde o avanço das taxas de contágio do novo coronavírus, em março do ano passado, passamos a viver em um grande experimento de controle social, político e econômico. Fechar empresas, proibir a população de sair às ruas e aumentar a repressão às liberdades individuais do cidadão levaram diversos setores da economia a uma verdadeira depressão. 

Hoje, todos nós conhecemos o resultado dessas medidas: desemprego, inflação, falência de empresas, entre tantos outros problemas econômicos que resultaram dessa crise. Inevitavelmente, para evitar um mal maior, os governos precisaram adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas para prover assistência à parte da população e negócios afetados pela pandemia, garantir a liquidez dos mercados financeiros e, de certa maneira, estimular mais consumo e investimento. 

Outra aposta dos governos para a “reativação da economia” foi investir na produção de vacinas experimentais com a finalidade de conter o avanço do contágio do vírus e relaxar as restrições à atividade econômica. Atualmente, os países mais desenvolvidos do mundo já começaram a voltar à “normalidade” com a vacinação completa da maior parte de suas populações. Nos EUA, mais notadamente, grandes eventos sem restrições de público e o aumento das viagens internas começam a trazer o país de volta aos trilhos. 

Contudo, diferentemente da compreensão de muitos, a recuperação da economia americana não parece estar sustentada em alicerces fortes. Na realidade, os Estados Unidos parecem estar caminhando em um morro de areia movediça. Em determinado ponto dessa subida a economia do país pode enfraquecer. Afinal de contas, a economia está crescendo com base em estímulos econômicos do governo e endividamento. Não se trata de um crescimento econômico baseado em investimentos, inovação e aumento da produtividade que poderia garantir o crescimento sustentável da maior potência global.

O nível de endividamento é um dos indicadores que mais perturba a expectativa de uma economia pujante para os Estados Unidos nos próximos anos. Atualmente, a dívida pública federal dos Estados Unidos cresceu aproximadamente US$ 5 trilhões desde o início da pandemia e alcançou US$ 28,1 trilhões, 127,5% do PIB do país. Trata-se do maior nível de endividamento da história do país. Como fonte de comparação, o recorde anterior do endividamento federal americano era de 106% do PIB, logo após a Segunda Guerra Mundial, o maior conflito da história, que teve a participação ativa de mais de 16 milhões de militares americanos. De acordo com o site USDebtClock.Org, que divulga as estimativas da dívida americana, a dívida pública deve chegar a US$ 89 trilhões em 2029, aproximadamente 277% do PIB, caso o padrão atual de gasto e arrecadação do governo se mantenha. Não é apenas o setor público que está pesadamente endividado naquele país. O setor privado encerrou 2020 com um nível de endividamento de 235,5% do PIB, um aumento de 17,5% em relação a 2019.

Em última instância, endividamento representa a troca de consumo futuro pelo consumo atual. Ou seja, em alguns anos este endividamento precisará ser pago e, para isso, o governo, as empresas e os cidadãos americanos precisaram honrar seus compromissos através do uso de seus rendimentos futuros, venda de seus ativos ou recorrendo a novos empréstimos. Caso contrário, o país estará fadado à falência. Atualmente, cada cidadão americano possui em média US$ 523 mil de ativos, mas possuem um passivo de US$ 460 mil. Ou seja, cada cidadão possui em média um patrimônio líquido de US$ 63 mil. Quando o patrimônio líquido se tornar negativo os EUA estarão rumo à insolvência, e o futuro da economia do país estará comprometido.

Infelizmente, não é apenas o “endividamento em bola de neve” que indica uma situação econômica vulnerável do país. As taxas de desemprego, por exemplo, estão em um nível superior ao da pré-pandemia. Em fevereiro de 2020, os EUA tiveram uma das menores taxas de desemprego da história: 3,5%. Entretanto, hoje, mesmo com todos os estímulos econômicos e a reabertura total da economia, o desemprego é de 5,9%. O país experimenta um desemprego elevado, mesmo com a queda de 1,8% da participação na força de trabalho do país, que está em um dos menores níveis históricos: 61,6%. 

A queda nas taxas de desemprego nos EUA estão se tornando cada vez mais difíceis por dois motivos. Em primeiro lugar, muitas pessoas não estão voltando a trabalhar, pois estão recebendo diversos auxílios governamentais que desestimulam seu ingresso em atividades com remuneração mais baixa. Em segundo lugar, com a falência de diversas empresas, muitas pessoas não conseguem ingressar no mercado de trabalho, pois suas habilidades não são adequadas aos novos empregos que estão sendo oferecidos.

Por fim, outro sinal de fragilidade da economia americana é o crescimento das taxas de inflação, as quais estão corroendo o poder de compra do americano. Antes da pandemia, a inflação no país era de 2,33%. Hoje, a inflação já é de 5,39% e a tendência é de alta. Também é preciso considerar a inflação dos preços de ativos, como de imóveis residenciais e ativos financeiros. As bolsas de valores alcançando máximas históricas e o preço de imóveis residenciais subindo cerca de 15% em um ano, são indicativos da desorganização econômica do país. Em última instância, a inflação de preços ao consumidor e do preço de ativos é fruto de um pacote de estímulos monetários agressivos, associado à desorganização da produção industrial e logística global. Assim, o país experimenta ao mesmo tempo uma oferta positiva da demanda por bens e serviços, e um choque negativo da oferta desses bens e serviços. Portanto, o nível de preços passa a crescer.

Os Estados Unidos lutam contra diversas ameaças a sua posição de potência hegemônica global. É evidente que os EUA passam hoje por diversos desafios: seu declínio cultural, as tensões sociais e as ameaças de outros países contra o seu vasto poder global, elementos que devem preocupar suas lideranças. Assim sendo, sua situação econômica também não deveria ser um motivo de preocupação, visto que ela é necessária para preservar seu poder político e militar. 

O erro de toda grande nação é acreditar que seu poder e capacidade de recuperação são infinitos. Grandes impérios e civilizações já colapsaram, sendo o declínio econômico um dos principais fatores para estas quedas. O Império Britânico, o Império Romano, a União Soviética, entre outras potências entraram em declínio por não adotarem políticas econômicas responsáveis. Suas economias atingiram um ponto de esgotamento, que inviabilizou a manutenção do seu poder econômico, militar e político. Nesse sentido, os Estados Unidos devem agir o quanto antes para adotarem um modelo econômico sustentável. O intervencionismo estatal e o gasto público descontrolado são a receita para o fracasso de um país, e os EUA devem se desamarrar o quanto antes dessa receita explosiva. O exemplo para recuperar seu sucesso econômico pode ser encontrado em sua própria história: finanças públicas controláveis e liberdade econômica – que sempre foram os pilares do desenvolvimento do país. Mais do que nunca, os EUA precisam se reencontrar com seu passado para encontrar o caminho para o sucesso no futuro. 

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