Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em 04/08/2021, seus membros decidiram elevar a taxa básica de juros (Selic) de 4,25% para 5,25%. Os membros do Copom ainda indicaram na ata da reunião que devem elevar a taxa Selic para 7% até o final do ano e mantê-la nesse patamar durante 2022. 

A decisão do Copom de adotar políticas de aperto monetário foram corretas. Afinal de contas, a inflação acumulada nos últimos 12 meses (até junho de 2021) foi de 8,35%, muito acima do teto da meta para a inflação pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) que é de 5,25% para este ano. Como comparação, em maio do ano passado a inflação acumulada em 12 meses era de 1,88%. Agora, o Boletim Focus, do próprio Banco Central, indica que a inflação só deve voltar para os limites da meta em junho de 2022.

Este descontrole das taxas de inflação é perigosíssimo para a credibilidade da instituição e para o aumento das expectativas de inflação pelos agentes econômicos, pois o país pode passar a entrar em um ciclo vicioso de aumento das taxas de inflação, que em última instância corroem o poder de compra da população, especialmente dos mais pobres. Afinal, quando todos passam a crer que a inflação vai aumentar, as empresas vão ajustar seus preços para a nova realidade macroeconômica do país.

Apesar da decisão acertada do Banco Central em aumentar os juros para conter o avanço da inflação, este aumento expressivo dos juros que estamos experimentando desde o fim de abril, quando o BC aumentou pela primeira vez os juros desde o recorde mínimo da Selic em 2% ao ano, demonstra um erro na condução da política monetária. Em apenas 4 meses os juros subiram em 3,25%, atingindo um patamar superior ao da pré-pandemia.

É verdade que no início da pandemia a situação era muito incerta e as perspectivas econômicas eram literalmente trágicas. Nesse cenário de rápida deterioração da atividade econômica pareceu sensata a redução agressiva de juros para estimular a economia e evitar uma possível deflação, que é tão perigosa quanto a inflação. 

Contudo, o Banco Central brasileiro errou ao agir como o banco central de um país que possui uma moeda de reserva internacional. Diferentemente dos Estados Unidos, por exemplo, quando acontece alguma crise nenhum investidor irá buscar reais. Os investidores buscarão aplicar seus recursos em ativos de moedas fortes, os quais oferecem mais segurança. 

Vivemos sob um sistema monetário internacional hierárquico. Nem todas as moedas são usadas e demandadas da mesma forma. Consequentemente, os bancos centrais ficam limitados a agir de acordo com o poder de suas moedas. Enquanto o Federal Reserve pode adotar uma política de expansão monetária agressiva em decorrência da elevada demanda por dólares no mundo, o Banco Central do Brasil precisa adequar sua atuação às limitações de aceitação do real no mercado internacional. 

Como o Brasil já entrou na pandemia com uma situação fiscal precária e em um cenário de instabilidade política, naturalmente, o real iria se depreciar, assim, aumentando o custo em reais dos produtos importados. Entretanto, com a queda no diferencial de juros, entre o Brasil e países de moeda forte, o resultado foi uma depreciação do real ainda maior do que ocorreria naturalmente. A performance do real em 2020 foi tão ruim que a moeda brasileira foi a 6ª moeda que mais se depreciou/desvalorizou em relação ao dólar em 2020.

Além da depreciação do real, outros dois fatores contribuíram para o aumento das taxas de inflação. Em primeiro lugar, o governo brasileiro apresentou o maior gasto público da história. Apenas as medidas para combate à COVID-19, como o auxílio emergencial, programa de manutenção de empregos, auxílio aos estados, entre outros, custaram R$ 620,5 bilhões ao erário. Isto fez com que a demanda agregada se expandisse. No entanto, ao mesmo tempo que a demanda agregada se expandia, a oferta agregada de bens e serviços se contraia. Com a paralisação de diversos setores da economia, muitas indústrias paralisaram suas produções e muitas empresas fecharam. Inevitavelmente, o nível de preços subiu.

Diante deste cenário, percebe-se que o estímulo monetário agressivo que tivemos não era tão necessário. O controle do câmbio e da inflação não deveriam ter sido relegados a um segundo plano de prioridades. Afinal, o mandato primário de qualquer Banco Central é a estabilidade de preços. 

Infelizmente, não é possível voltar ao passado para corrigir os erros. Agora, o Banco Central precisa adotar uma política mais agressiva para o controle da inflação. Independentemente dos aspectos recessivos dessa medida, o crescimento da economia brasileira não pode depender de intervenções da política monetária. Aliás, a política monetária é condicionada à situação fiscal do país. Na ata da reunião do Copom é dito que “[…] perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”. O Copom está certo ao indicar que a classe política precisa acelerar o ritmo das reformas econômicas para melhorar as condições macroeconômicas do país. É crucial que o Congresso Nacional e o Poder Executivo Federal realizem reformas que reduzam o risco fiscal do Brasil e propiciem um melhor ambiente de negócios para as empresas. Já ao Banco Central cabe ajustar a política monetária para a defesa da estabilidade de preços. 

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