Por que o resultado contábil não reflete o resultado “real” da minha empresa?
Uma das principais preocupações dos empresários quando recebem as demonstrações contábeis de seus contadores é: “este resultado não reflete a realidade da minha empresa”. Na maioria dos casos, a pouca familiaridade com as técnicas contábeis causa essa confusão ao empresário perceber discrepâncias entre o lucro (ou prejuízo) esperado e aquele apresentado nas demonstrações contábeis. É chegada a hora de esclarecermos de uma vez por todas esse assunto!
Na contabilidade, a compreensão da realidade financeira de uma empresa vai além das transações financeiras realizadas em um determinado período. A contabilidade visa registrar e analisar dados econômicos e financeiros que abrangem um espectro mais amplo do que apenas as transações diárias. É essencial que a contabilidade retrate, de maneira compreensível, todos os eventos econômicos e financeiros que impactem a empresa, para que todas as partes interessadas na organização analisem as informações e tomar decisões de investimento, gestão e outras ações que considerem necessárias.
As técnicas contábeis vão além da simples análise da situação econômica de uma empresa, como é normalmente percebida pelos empresários. O lucro contábil não deve ser interpretado apenas como “o dinheiro que entrou com as vendas de produtos e serviços menos o dinheiro que saiu com os custos e despesas”. As técnicas contábeis devem considerar uma variedade de fatores que impactam o resultado contábil da empresa, mas não afetam diretamente o caixa, principalmente no curto prazo.
Um exemplo comum de uma conta contábil que afeta o resultado da empresa, mas não tem impacto direto no caixa, é a depreciação. Expliquemos melhor com um cenário: suponha que você seja o proprietário de uma indústria e adquira uma nova máquina para a produção de seus produtos. No entanto, é importante lembrar que máquinas e equipamentos não duram para sempre. Ao longo de sua vida útil, eles sofrem desgaste, perdem eficiência e qualidade, requerem manutenção e, eventualmente, se tornam obsoletos. Nesse sentido, as técnicas contábeis estabelecem que os contadores calculem a depreciação dessa máquina para reconhecer a perda de valor do ativo ao longo do tempo. Embora a empresa não tenha um “pagamento explícito” pela depreciação da máquina, ela é considerada uma despesa não monetária. Isso ocorre porque é necessário refletir o desgaste do ativo para apresentar a situação econômica real da empresa. Caso contrário, uma indústria com equipamentos novos teria o mesmo valor de ativos que uma empresa com equipamentos antigos, o que não seria lógico.
É compreensível que a depreciação possa preocupar muitos empresários, uma vez que ela pode resultar em uma redução do resultado da empresa. No entanto, é importante destacar que a depreciação, geralmente, não deve ser motivo de frustração. Na verdade, para empresas que seguem o regime do lucro real, uma queda no resultado pode ter benefícios fiscais significativos. Isso ocorre porque um resultado menor implica em uma base de cálculo reduzida para o pagamento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), o que, em termos de fluxo de caixa, é favorável para a empresa. Portanto, é essencial compreender que a depreciação pode ter um impacto positivo no aspecto tributário, mesmo que inicialmente diminua o resultado contábil da empresa.
A depreciação não é a única conta contábil que impacta o resultado contábil sem afetar diretamente a posição de caixa da empresa. A amortização, por exemplo, segue uma lógica semelhante à depreciação, refletindo a perda de valor ao longo do tempo de ativos intangíveis, como marcas, patentes, direitos, entre outros. Além disso, os contadores devem considerar as provisões, que buscam estimar despesas ou perdas futuras, muitas vezes relacionadas a ações judiciais, permitindo que a empresa reserve os valores necessários para cobri-las. Outra conta contábil relevante é chamada “ajustes de valor”, que visa ajustar o valor de ativos e passivos para refletir de forma mais precisa o seu valor atual. Por exemplo, se uma empresa adquiriu um imóvel há muito tempo e seu valor de mercado aumentou significativamente, realizar um ajuste de valor pode ser uma estratégia vantajosa, especialmente se a empresa pretende vendê-lo em breve, pois o imposto sobre ganho de capital será reduzido. Além disso, os contadores também podem registrar outras receitas e despesas não monetárias nas contas contábeis, como o reconhecimento de receitas de vendas a prazo, doações e outros eventos relevantes para a empresa.
Em última análise, a contabilidade é uma prática de grande complexidade, pois os profissionais da área devem utilizar uma variedade de normas e técnicas contábeis para garantir que diversos eventos com impacto econômico e financeiro na empresa sejam devidamente considerados nas demonstrações contábeis. Afinal, o valor da contabilidade de uma empresa reside no fato de que seus números refletem fielmente sua realidade. Somente assim as partes interessadas podem realizar uma análise adequada da situação econômico-financeira da empresa.
Portanto, esperamos que este artigo possa ajudar você, estimado cliente, a compreender melhor o resultado contábil de sua empresa.
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