Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.
Quase todas as pandemias têm um efeito negativo na economia mundial. Afinal de contas, as pessoas tendem a mudar suas ações do dia a dia, tais como evitar aglomerações, evitar viagens e o consumo de alguns produtos. Os governos também sofrem com o aumento dos custos com a saúde pública. No entanto, com a pandemia da COVID-19, esta prática não foi seguida. Ao invés de conscientizar a população sobre as medidas profiláticas acerca da doença e isolar os pacientes infectados e mais vulneráveis ao vírus, a maioria dos governadores e prefeitos optou por implementar lockdowns severos. Inevitavelmente, tal medida sanitária afetou a atividade econômica brasileira. Com o fechamento das “atividades não essenciais” e a redução da atividade industrial, a economia brasileira experimentou uma queda significativa do PIB e de outros indicadores sociais e econômicos.
Com as restrições de funcionamento de grande parte das atividades econômicas, muitas empresas enfrentaram problemas de liquidez e solvência. Segundo o “Mapa de Empresas” do Ministério da Economia, do início do ano até 9 de novembro, cerca de 89 mil empresas foram extintas no país. Além disso, muitas empresas tiveram que readequar sua estrutura para conseguirem se manter sustentáveis durante a pandemia. Como resultado, entre março e junho, o Brasil viu o número de desempregados aumentar. Em abril, o pior mês de saldo de empregos no país, o número de demissões superou o de admissões em cerca de 940 mil pessoas. O setor industrial reduziu substancialmente sua produção e o comércio viu suas vendas caírem substancialmente. O setor informal da economia foi ainda mais afetado. O uso do auxílio emergencial por cerca de 64 milhões de pessoas demonstrou a vulnerabilidade social de grande parte da população brasileira. Neste cenário, o PIB brasileiro caiu 5,9% no primeiro trimestre e 11,4% no segundo semestre em comparação com os respectivos semestres de 2019.
Levando em conta o cenário econômico caótico, o governo federal mudou sua política econômica para mitigar os efeitos da crise. O auxílio emergencial aos cidadãos que não possuíam meios financeiros para se sustentar foi uma das principais medidas adotadas pelo governo. O auxílio possibilitou a injeção de cerca de R$320 bilhões de forma direta na economia e conseguiu criar uma rede de proteção que evitou o colapso social do país. Outra medida importante foi a criação de programas de empréstimo direcionada a empresas com dificuldades financeiras, como o PRONAMPE e outras linhas de crédito oferecida pelo BNDES. O Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda também foi crítico para a preservação de empregos. Até julho de 2020, este programa já havia possibilitado a manutenção de 12 milhões de empregos no país.
O Banco Central também facilitou a recuperação da economia com sua política de expansão monetária que reduziu a taxa SELIC para o menor patamar da história, apenas 2%. A redução dos juros foi crítica para fomentar investimentos produtivos, estimular o mercado imobiliário e fomentar o consumo de bens duráveis.
Em última análise, com todas as medidas adotadas pelo governo, o Brasil conseguiu melhorar sua situação econômica rapidamente. Em julho, o FMI (Fundo Monetário Internacional) previa uma queda 9,1% do PIB brasileiro em 2020. Contudo, estas previsões catastróficas não se confirmaram. Semana após semana, instituições financeiras, econômicas e governamentais vem revisando as projeções de queda do PIB do país para um patamar menos ruim. Hoje, o Banco Central estima uma queda do PIB de 4,81% e bancos como o Bradesco e Itaú estimam uma queda de -4,5%. Já o ministro da economia, Paulo Guedes, fala em uma queda de 4%.
Um estudo realizado pelo FMI revela que o Brasil deve ser um dos países menos afetados economicamente pela COVID-19 na América do Sul. Apenas o Uruguai, Paraguai e a Guiana devem experimentar uma queda menos expressiva no PIB.
Atualmente, a economia brasileira está em um processo de recuperação econômica. As projeções são de que o PIB do terceiro trimestre deve superar 9% de crescimento. Além disso, outros indicadores econômicos já apontam uma recuperação em “V” da economia. Desde julho, o número de admissões vem superando o número de demissões. O saldo do CAGED de setembro é de mais de 300 mil empregos criados. As vendas do varejo já estão atingindo o nível de vendas anterior à pandemia e a confiança dos empresários e consumidores está crescendo mês a mês, sendo que em 2021, o PIB deve crescer 3,2%.
No entanto, o crescimento robusto da economia brasileira nos próximos anos depende das ações que o governo, o parlamento e o judiciário tomarem nos próximos meses. É imprescindível que a pauta de reformas econômicas avance e que a dívida pública seja contida. Este ano, a relação dívida-PIB deve ficar próxima de 100%, elevando o risco de uma crise fiscal e um aumento da inflação no país. Logo, é crítico que os atores políticos permitam que o Brasil adeque suas finanças públicas para assegurar a confiança interna e externa na economia do país. Apenas assim poderemos superar a crise da COVID-19 e acelerar nosso processo de desenvolvimento econômico.
Referências
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