Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos                               Estados Unidos.

       

         Indefinição e incertezas parecem ser os termos que melhor caracterizam o momento que estamos vivendo. Afinal de contas, a pandemia da COVID-19 trouxe uma crise sem precedentes para o período pós-Segunda Guerra Mundial. As restrições na maioria das atividades econômicas e viagens, as dificuldades de produção e distribuição de equipamentos e medicamentos para o enfrentamento à pandemia, a supressão de direitos fundamentais dos cidadãos, entre outros eventos, levaram a maioria dos países do mundo a enfrentar crises econômicas, sociais, políticas e sanitárias. Em um cenário tão caótico quanto o atual, é natural que as pessoas se questionem sobre as perspectivas para o futuro. Em um país como o Brasil, a necessidade de se entender os principais desafios é essencial para que cada um de nós possa tomar as decisões mais adequadas para as nossas vidas. A realidade é que os problemas de 2021 serão reflexo de 2020 e dos últimos anos turbulentos que a sociedade brasileira vivenciou.

         Talvez, o primeiro grande desafio seja o início da vacinação no país, pois, para muitos especialistas, o início da vacinação é uma etapa fundamental para o nosso retorno à “normalidade”. Atualmente, existem quatro vacinas em um estágio promissor de desenvolvimento (Pfizer, Oxford, Moderna e Coronavac), as quais ainda estão sob a análise da Anvisa. Espera-se que até janeiro algumas dessas vacinas já possuam seu uso emergencial autorizado. O governo federal acredita que o início da vacinação só deve ocorrer em março devido à complexidade logística que um país de dimensões continentais como o Brasil possui. Apesar da vacinação em massa demorar um pouco mais para ser iniciada, a vacinação dos grupos de risco irá melhorar muito a situação sanitária do país.

         As consequências do fim do auxílio emergencial também são incertas. Afinal de contas, o auxílio foi essencial para evitar um aumento grande na pobreza e uma possível crise social. Logo, o fim do auxílio pode levar ao agravamento de alguns problemas sociais. Contudo, esses problemas podem ser minimizados caso os dados positivos acerca da criação de empregos no país e a recuperação rápida da economia sejam mantidos nos próximos meses. Caso a perspectiva de recuperação seja confirmada, o Brasil poderá enfrentar com mais facilidade os problemas sociais que o país está sofrendo. Nesse sentido, é importante que não haja um fechamento da economia, como foi realizado entre março e junho desse ano.

         Um dos grandes problemas que a crise da COVID-19 trouxe foi a deterioração da já frágil situação fiscal do país. As estimativas são de que o país experimentará o maior déficit fiscal de sua história e a relação dívida-PIB também deve alcançar um patamar recorde. Em última análise, a deterioração da situação fiscal do país pode trazer desequilíbrios macroeconômicos graves, como uma desvalorização forte do Real, fuga de capitais, inflação alta, entre outros problemas. Logo, o progresso da agenda de reformas econômicas propostas pelo governo federal será essencial para transformar a recuperação da crise da COVID-19 em um caminho para o desenvolvimento sustentável do país. Afinal de contas, a disciplina fiscal é essencial para o país dar confiança aos investidores e consumidores e transferir a liderança do processo de desenvolvimento econômico para o setor privado.

         Outro risco que o país poderá sofrer em 2021 é a aceleração das taxas de inflação. A aceleração da inflação deve ocorrer porque, em 2020, o governo federal adotou uma política fiscal expansionista e o Banco Central adotou uma política monetária expansionista com o intuito de minimizar os efeitos da pandemia na economia. Em última instância, estas políticas expansionistas aumentaram a demanda agregada no Brasil e levaram a uma forte depreciação do real. Como não houve uma expansão correspondente na oferta, e em muitos mercados houve de fato uma retração da oferta, ocorreu uma elevação no preço de diversos produtos. Assim sendo, em 2021 o Banco Central precisará elevar a taxa básica de juros para controlar a inflação. No entanto, caso o governo e o Banco Central continuem com suas políticas expansionistas, podemos entrar em um ambiente de inflação mais alta em 2021.

         No âmbito das relações internacionais, o Brasil enfrentará novos e velhos problemas. O desmatamento da Amazônia será o maior desafio do país. Afinal, com a ascensão da agenda “verde” e protecionista na Europa, o país pode enfrentar dificuldades em conseguir realizar acordos comerciais, além de poder começar a sofrer sanções econômicas em decorrência do desmatamento. Nesse sentido, o governo precisará melhorar sua capacidade de comunicação para expor suas ações de preservação das florestas e expor as falácias disseminadas para piorar a imagem do país. Outra tática que o país deve perseguir é estabelecer um melhor diálogo com países que irão se beneficiar do acordo Mercosul-EU e buscar novos parceiros comerciais.

         Outro desafio que o Brasil poderá enfrentar é uma crise migratória da Argentina, visto que nosso maior vizinho deve ser a economia do G-20 que irá ter a maior queda do PIB entre os países do grupo. A crise social e econômica argentina deve levar uma parcela considerável da população a imigrar para outros países e o Brasil, como país vizinho, deve receber parte desses imigrantes. Inevitavelmente, isso trará mais problemas para o Brasil, visto que o país se encontra em uma situação fiscal ruim, além de possuir um nível elevado de desemprego. Logo, será difícil acomodar imigrantes no nosso mercado de trabalho, o que pode gerar problemas sociais para o nosso país.

         Por fim, a relação Brasil-EUA deve passar por uma transformação importante com a eleição de Joe Biden. Diferentemente do presidente Donald Trump, que possuía um bom relacionamento com Bolsonaro, o presidente Joe Biden não deve ter uma postura tão positiva com o Brasil. Um dos poucos países citados em debates sobre política internacional nas eleições americanas foi o Brasil. No debate presidencial, o então candidato à presidência ameaçou impor sanções econômicas ao país caso não haja uma mudança nas políticas de proteção da Amazônia. Além disso, o alinhamento político de Bolsonaro com Trump também deve gerar problemas de relacionamento entre Bolsonaro e Biden. Contudo, acredito que não haverá uma deterioração muito forte no relacionamento entre os países, visto que a política externa americana tem relegado a América Latina a um patamar secundário em sua agenda de política internacional.

         Em última análise, 2021, assim como 2020, será um ano de incertezas. A pandemia deve terminar no próximo ano, mas suas consequências terão um impacto longo na economia e política global. 2021 será um ano de reconstrução econômica e social, e para que o país tenha sucesso em retomar o caminho do desenvolvimento, será crucial que o governo tenha capacidade de aprovar sua agenda de reformas econômicas, melhorar a situação sanitária do país e melhorar sua imagem internacionalmente. Caso tenhamos êxito em cumprir esses desafios, o Brasil deve sair fortalecido da crise da COVID-19.

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