Por João Victor Silva, analista de mercado da Orsitec, formado em Relações Internacionais e Economia pela Boston University, nos Estados Unidos.         

         
         Quando discutimos sobre assuntos econômicos, muitas vezes tratamos de conceitos aparentemente abstratos para grande parte da sociedade. Fala-se muito de taxas de juros, gastos governamentais, balança de pagamentos, entre outros assuntos. Apesar de ser inegável a importância de se analisar as diversas variáveis econômicas, muitas vezes outras questões importantes para o desenvolvimento de um país são relegadas a um segundo plano das discussões econômicas. Entre essas questões temos o tema da educação.

         O nível educacional tem um efeito substancialmente elevado no desempenho socioeconômico de um país. Por um lado, criam-se diversas oportunidades profissionais e pessoais para os cidadãos com um nível educacional melhor. Esses indivíduos terão melhor qualificação para atuarem em suas profissões, sua remuneração tenderá a ser mais alta e sua capacidade de progredir socialmente serão muito mais elevadas. Países com níveis educacionais elevados também passam a experimentar uma transformação da sociedade, a qual tende a elevar-se culturalmente e politicamente. Um escrito no prédio da Biblioteca Pública de Boston reflete bem a importância da educação para uma sociedade: “A comunidade requer a educação das pessoas como salvaguarda da ordem e da liberdade”. Afinal de contas, uma população com um nível de instrução mais elevada tende a eleger políticos mais responsáveis, preservar as instituições democráticas e respeitar a lei.

         Por outro lado, a educação eleva a capacidade de crescimento e dinamismo econômico do país, pois é um instrumento fundamental para o aumento do capital humano da população. Pessoas com um elevado nível de instrução terão mais habilidades e capacidade de executar suas funções profissionais, aumentado assim a produtividade da economia, além de promover um ambiente de inovações.

         A receita de investimento em educação como uma estratégia para o desenvolvimento econômico foi seguida por diversos países, os quais obtiveram resultados positivos. O exemplo mais notável é o da Coréia do Sul. O país asiático, que era um dos mais pobres do mundo até a década de 1960, apostou na inovação como uma das principais estratégias para o seu desenvolvimento. O êxito dessa estratégia foi excepcional. Em poucos anos, o país começou a experimentar elevadas taxas de desenvolvimento econômico e passou a desenvolver um setor industrial e tecnológico extremamente inovador, capaz de competir com economias fortes como a do Japão, EUA e Alemanha. Em 2019, o país era a 12a maior economia do mundo e 4a da Ásia, apesar de seu território ser pequeno, com poucas riquezas minerais e um solo pouco fértil. No entanto, suas empresas são referências para o mundo: Samsung, Hyundai, KIA, POSCO, LG, são algumas das grandes empresas do país.

         Infelizmente, o Brasil não seguiu o mesmo exemplo dos coreanos. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2019, realizada pelo IBGE, mais da metade das pessoas com 25 anos ou mais não possui ensino médio completo, cerca de 20% dos jovens abandonaram alguma etapa da educação básica, e 6,6% da população é analfabeta. No entanto, os problemas não terminam com a evasão escolar e o analfabetismo. Muitos dos que terminam a educação básica possuem um desempenho educacional sofrível. A prova do PISA de 2018 indicou que dois terços dos brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico de matemática e que o Brasil estagnou no desempenho de leitura dos alunos nos últimos dez anos.

         Mas o problema da educação no Brasil não parece ser a falta de investimento governamental. Em 2017, o governo realizou gastos com educação equivalentes a 6,3% do PIB, superior inclusive a Coréia do Sul, na qual os gastos em educação em relação ao PIB foram de 4,3%. Em 2019, o orçamento do MEC (Ministério da Educação) foi de aproximadamente R$118 bilhões, ou seja, o drama da educação brasileira não está na falta de recursos, mas na má utilização desses recursos e na utilização de métodos de ensino inadequados.

         Um dos grandes problemas estruturais da educação no Brasil, é a disparidade de gastos entre a educação básica e superior. Segundo dados divulgados pela OCDE, em 2018 o ensino superior do Brasil, com um sexto dos alunos do país, recebia três vezes mais aportes do que o ensino básico. Logo, a educação básica, a qual é fundamental para o desenvolvimento de um ensino superior forte, recebe muito menos recursos. A falta de investimentos no ensino básico também ocasiona distorções sociais, pois os alunos de escolas particulares, os quais geralmente possuem um nível social mais elevado, são os que possuem maior chance de acesso nas universidades públicas do país.

         Não é apenas a má distribuição de recursos que traz problemas para a educação do país. Os métodos de ensino ruins, a ideologização do ensino, a má remuneração e qualificação de professores do ensino básico e a baixa qualidade da infraestrutura de ensino acabam por reduzir a capacidade de aprendizado dos alunos brasileiros.

         Em última análise, o Brasil precisa mudar urgentemente sua política educacional para conquistar maiores avanços socioeconômicos. Em primeiro lugar, o foco dos investimentos deve ser na educação básica para aumentar as oportunidades pessoais dos alunos brasileiros. Em segundo lugar, o ensino superior deve ter os investimentos concentrados em áreas de ensino que possam fomentar um ambiente de inovação do país e melhorar a qualidade de vida da população. Logo, cursos nas áreas de engenharia, tecnologia e saúde devem se tornar prioridades. Em terceiro lugar, o ensino tecnológico (profissionalizante) deve ser expandido para aumentar a capacitação profissional dos alunos que não desejam ingressar em cursos superiores. Por fim, deve se investir no ensino de tecnologia desde o início do ensino básico, pois a maioria dos setores da economia dependerá cada vez mais de profissionais qualificados em operar e desenvolver diversos instrumentos tecnológicos.

         Apenas com uma nova abordagem para a educação poderemos ter mais confiança na caminhada do país rumo ao desenvolvimento econômico.

Referências

HANUSHEK, E. A.; WÖSSMANN, L. Education and economic growth. International Encyclopedia of Education, p. 245–252, 2010.

IBGE. PNAD Educação 2019: Mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o ensino médio. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28285-pnad-educacao-2019-mais-da-metade-das-pessoas-de-25-anos-ou-mais-nao-completaram-o-ensino-medio#:~:text=No%20Brasil%2C%20a%20propor%C3%A7%C3%A3o%20de,4%25%20entre%202018%20e%202019.>. Acesso em: 18 feb. 2021.

LIM, S. J. THE DEVELOPMENT OF EDUCATION IN SOUTH KOREA (ANALYSIS ON THE BASIS OF RELATIONSHIPS BETWEEN HIGHER EDUCATION DEVELOPMENT AND ECONOMIC GROWTH). Dissertation

MINISTER OF EDUCATION. Education, the driving force for the development of Korea. Republic of Korea, Minister of Education.

MORENO, A. C.; OLIVEIRA, E. Brasil cai em ranking mundial de educação em matemática e ciências; e fica estagnado em leitura. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/12/03/brasil-cai-em-ranking-mundial-de-educacao-em-matematica-e-ciencias-e-fica-estagnado-em-leitura.ghtml>. Acesso em: 18 feb. 2021.

PUJOL, L. Com seis vezes mais alunos, Ensino Básico recebe um terço dos recursos do Ensino Superior. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/com-seis-vezes-mais-alunos-ensino-basico-recebe-um-terco-dos-recursos-do-ensino-superior-9975ppem9n3nlnoncd58eo50w/#:~:text=Para%20cada%20estudante%2C%20o%20pa%C3%ADs,R%24%2013%2C4%20mil.&text=Ou%20seja%3A%20com%20um%20sexto,do%20que%20a%20educa%C3%A7%C3%A3o%20b%C3%A1sica.>. Acesso em: 18 feb. 2021.

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